25.11.06

Ciúmes: uma maldição inevitável



Dentro de todas as apresentações passionais da natureza humana, o ciúme talvez, seja a mais criminógena. A intensidade e a representação dele como causa de desprazer é que vai definir seu potencial agressivo e destrutivo.
A passionalidade é a manifestação mais perfeita da nossa instabilidade psicológica e a certificação de que fomos mal fabricados. Ela tanto pode ser exteriorizada dentro de limites toleráveis, quanto de manifestações puras de barbárie e relacionamentos sociais caóticos e irracionais. O ciúme é talvez o mais estudado hoje em dia. Todos os seres humanos possuem. Claro, em intensidades diferentes e com objetos( pessoas e coisas) diferentes. Tenta-se colocar o ciúme como característica de insegurança e imaturidade, mas o que comprovamos com a prática é que ela é muito mais do que isto. O ciúme normal existe em todas as pessoas, pois está ligada ao complexo de Édipo.A manifestação patológica deste ciúme é que representa um objeto de estudo difícil e enigmático.
Freud citava o ciúme patológico como exagerado e representando a projeção das próprias traições reais ou fantasiosas sobre o parceiro. A Psicologia criminal tem se deparado com o poder nefasto desta paixão como alimento inesgotável para a passagem ao ato criminoso cometido por personalidades psicopatológicas psicóticas ou não. O famoso delírio de ciúme, presente em quase todas as psicopatologias e homicídios praticados todo os dias é uma prova incontestável de que o ciúme é uma manifestação passional presente em toda a humanidade e sua ação criminal vai depender do comprometimento ou não das faculdades mentais da pessoa.
È possível não ter ciúmes? Achamos que quanto mais o objeto do ciúme for importante para nós, mesmo que este importante não seja bom para nós e que saibamos disto, a presença do ciúme é inevitável. O potencial criminal e a capacidade de matar por ele, serão diretamente proporcionais ao nível de saúde mental, e a presença de equilíbrio psicológico. Não nos esqueçamos de que pouco sabemos sobre nós e por mais que achemos que somos estáveis emocionalmente nos deparamos com fragilidades jamais imaginadas. Psicopatologias como a Paranóia, o Alcoolismo e a toxicomania são as campeãs junto com o transtorno afetivo bipolar na origem dos mais complexos e brutais crimes contra a pessoa humana. Os pacientes de tais patologias desenvolvem uma certeza de traição tão poderosa que passam a criar estórias de que são traídos tão bem elaboradas que ás vezes o profissional se obriga à uma investigação profunda e criteriosa que comprove o engano e o delírio fabulado.
Nas avaliações psicológicas de homicidas passionais o profissional tem de possuir uma estruturação psicológica onde o luto da traição pelo menos esteja bem elaborado. Pois ele corre o risco de se identificar ou com a vítima agredida ou executada ou com o agressor que talvez, simbolicamente, represente o seu próprio desejo inconsciente de revanche de uma traição sofrida no real ou no imaginário.
Muitas vezes fazer ciúme é uma forma de demonstrar inseguranças e fragilidades. Muitas vezes é um grito de alerta para a ebulição de alguma psicopatologia grave. Devemos ter muito cuidado com esta paixão. Ela tanto pode demonstrar meu medo em perder algo que eu tenho e muito prezo, como pode manifestar meu desequilíbrio e minha ausência de auto conhecimento. Aos ciumentos de toda parte um lembrete: Quem ama não mata; mas nunca acredite nisto!.
Franklin Barbosa Bezerra - Psicanalista e Psicólogo jurídico
Supervisor da Clínica- escola do CESMAC e prof. de Psicologia Jurídica e Psicopatologia II